Crises de Identidade
Sob a capa da ficção encontramos concepções da subjectividade que reflectem — ou antecipam — um certo espírito do tempo. Antes de o «cyborg» se ter tornado um conceito crítico, e antes ainda de o cyberpunk ter explorado possíveis formas de reconfiguração do sujeito através da sua ligação às máquinas, já alguma ficção científica havia preparado esse terreno. Neste artigo, analisam-se alguns desses contos que, nos anos 50 e 60, especulavam sobre o que acontece ao indivíduo quando humano e máquina convergem, aí se destacando três ingredientes para essa reflexão: a memória, o embodiment e o reconhecimento.
in Jorge Martins Rosa (org.), Cibercultura e Ficção, Lisboa, Documenta, 2012, pp. 315-330.
Business as Usual
On the very first PhD on Philip K. Dick, Kim Stanley Robinson classifies the author’s early 60s novels as «Martian». Although one must acknowledge that period as the one in which the red planet appears more often as a setting, Robinson’s thesis does not give many substantial reasons for that epithet, apart from the general claim that «Mars […], is a representation of the America in which Dick wrote the novels, in which certain facets of the society have been augmented, others suppressed.» In this paper, we propose a re-evaluation of that assertion, carefully looking both at the alleged «Martian Novels» and other titles, while also checking — provided that Robinson also said that «dystopia […] is the most common element in all of Dick’s work» — how firmly the dystopian mode is coupled with that typically science-fictional narrative device that is Mars.
Comunicação apresentada na 2008 J. Lloyd Eaton Conference: Chronicling Mars (University of California Riverside, Riverside, CA, organização do Special Collections Dept. at the UC Riverside Libraries), a 18 de Maio de 2008. Publicado in Howard Hendrix, George Slusser e Eric S. Rabkin (orgs.), Visions of Mars: Essays on the Red Planet in Fiction and Science, Jefferson (NC), McFarland, 2011, pp. 130-138.
Cold Equations
Ainda que não haja uma forma inequívoca (i. e., algorítimica) de «extrair» o sentido da obra de um autor através de um simples processo de categorização, tal tarefa pode ser em parte levada a cabo num género como o da ficção científica, dado que os seus temas e protocolos constituem um conjunto relativamente estável. Com efeito, já foram várias as tentativas de analisar a SF em geral (ou um autor em particular) a partir de uma classificação dos seus subgéneros ou temas (ou identificando a presença ou ausência desses temas na obra desse autor), mas não existe qualquer consenso, o que talvez se deva à natureza dedutiva ou «de cima para baixo» de tais categorizações.
Este artigo propõe, em vez disso, uma abordagem «de baixo para cima», indutiva, abordagem essa que procura combinar a solidez de um ponto de partida quase canónico (as «entradas temáticas da Encyclopedia of Science Fiction, ou ao menos um subconjunto relevante dessas entradas) com a flexibilidade que consiste na fusão dessas categorias e na adaptação destas a instências mais específicas. A obra de Philip K. Dick é aqui usada como ilustração desse método.
Comunicação apresentada na conferência SFRA’2006, sob o tema «When Genres Collide» (White Plains, Nova Iorque, organização da Science Fiction Research Association), a 23 de Junho de 2006, posteriormente publicado in Thomas J. Morrissey e Oscar de los Santos (orgs.), When Genres Collide, Waterbury (CT), Fine Tooth Press, 2007.
Reality Strikes Again
Sempre que às artes tecnológicas é aplicado o prefixo «ciber», é inegável a influência, em maior ou menor grau, do subgénero da literatura de ficção científica conhecido como «cyberpunk». No entanto, quer artistas quer críticos — conhecedores da história da arte mas dificilmente da história da ficção científica — atribuem-lhe uma autonomia que obviamente não possui, como se tivesse surgido ex nihilo e, suspenso num limbo, não possuísse quaisquer relações de «filiação» ou de «afinidade» literária.
Procurar-se-á nesta comunicação desfazer esse equívoco, enquadrando o cyberpunk no contexto mais alargado da história da ficção científica.
Comunicação apresentada nos Encontros de Arte e Comunicação (Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, organização do Centro de Estudos de Comunicação e Linguagens), a 3 de Junho de 2005, posteriormente publicado na Revista de Comunicação e Linguagens, n.º 37 («Arte e Comunicação»), Lisboa, Relógio d’Água.
Um Tabuleiro de Duas Faces
Embora apenas quatro títulos da obra de Philip K. Dick abordem o tema do acaso — Solar Lottery (escrito em 1954), The Man in the High Castle (1961), The Game Players of Titan (1963) e A Maze of Death (1968) –, este surge contudo associado, e de forma bastante coerente, a outros, como a oposição humano/inumano ou a dialéctica entre a percepção e a realidade, que são mais comummente referidos como dominantes no autor. A estratégia seguida neste artigo consiste, após uma sumária passagem pelas novelas acima referidas, na demonstração de como uma aparente dualidade no tratamento do acaso pode ser resolvida a partir do momento em que se assume uma perspectiva mais alargada do universo temático de Philip K. Dick.
Caleidoscópio, n.º 4 («Cultura de Jogos», org. por Luís Filipe Teixeira), Lisboa, Edições Universitárias Lusófonas, 2003.
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